segunda-feira, 24 de setembro de 2012

RESENHA DO FILME NA ESTRADA.

No final da tarde de Sexta-Feira, 21 de Setembro de 2012, foi um dia bastante agitado do qual passei, depois que terminei minha atividade da qual estava fazendo na UFRN, fui passear no Praia Shopping, onde fui conferir a uma sessão de cinema onde assisti “Na Estrada”, adaptação de um romance de Jack Kerouac(1922-1969). Um dos mais importantes escritores que criou a Geração Beat, movimenta de jovens idealistas sonhares, que não se conformavam com o mundo hipócrita que a sociedade americana passou a viver depois do fim da Segunda Guerra Mundial. E que influenciaram no movimento da contracultura surgido posteriormente nos anos 1960. Com direito a muitas drogas, sexo e rock´n´roll. O lançamento desse filme aqui em Natal/RN aconteceu um pouco tardiamente, nacionalmente esse filme foi lançado no dia 13 de Julho, em vista do filme não ser do tipo um blockbuster, que sirva apenas para entreter comendo pipoca, como nos filmes de ação, com muita adrenalina, muito tiroteio, e muita pancadaria estrelada por astros fortões. “Na Estrada” é um típico filme que eu classificaria como Cult, ou mais apropriadamente um Road Movie, carregando uma temática muito cabeça, que nem todos ao assistirem, podem até não compreenderem a visão de Kerouac sobre o mundo a sua volta, mesmo quem tenha lido ou não essa sua obra. O mundo perturbador, rebelde, completamente liberal de Sal Paradise, e sua vida errante, dirigindo o seu carro, andando sem rumo certo pelos mais diferentes lugares dos EUA. Kerouac passou seis anos dedicando a escrever, reescrever até chegar finalmente a editar e publicar essa sua famosa obra, da qual ele começou a manuscrever em Abril de 1951, movido por muita benzendrina, uma droga estimulante, e ouvindo muito jazz, sua primeira publicação só foi concretizada em 1957.
Se para conseguir publicar essa obra, Kerouac levou seis anos, a realização desse filme inspirado no seu romance levou muito mais tempo para ser concretizado, foram mais que anos, foram décadas sendo diversas vezes adiados, e só para se ter uma ideia, o primeiro diretor que chegou a comprar os direitos autorais do livro para levar a obra-prima de Kerouac para as telonas foi Francis Ford Coopola em 1979. Mas Coopola acabou desistindo, depois dele vários consagrados diretores americanos foram escalados para dirigirem o projeto, mas todos desistiram, e diversas também foram as vezes que foram modificados os roteiros. E só mesmo o brasileiro Walter Salles para concretizar o projeto desse filme. Walter Salles, que já tem um extenso currículo no cinema nacional, começou na década de 1980 dirigindo documentários, dirigiu seu primeiro longa-metragem não documental intitulado “A Grande Arte” (1991), um filme do gênero suspense, uma produção brasileira e americana, que contou com elenco brasileiro e americano, depois dirigiu “Terra Estrangeira” (1996), produção luso-brasileira, mas foi com “Central do Brasil” (1998), o responsável por ter sido um divisor de águas na sua carreira, a partir dele, o comovente filme estrelado pela grande dama da arte brasileira Fernanda Montenegro, acumulou diversos prêmios em Festivais Internacionais, como em Berlim, Havana, o Globo de Ouro, e em 1999 chegou a concorrer a dois Oscars, o de melhor filme estrangeiro, e melhor atriz para Fernanda Montenegro. Depois de Central do Brasil, Walter Salles dirigiu “Abril Despedaçado” (2001). Esse também foi bastante premiado elogiado pela critica tanto nacionalmente, quanto internacionalmente. A partir de 2004, foi tentar fazer carreira internacional, onde dirigiu “Diários de Motocicleta”, um Road movie que contava a trajetória do famoso guerrilheiro latino americano Ernesto Che Guevara, vagando pelos mais diferentes lugares da América do Sul, antes de se tornar o famoso ícone da Revolução Cubana. Foi outro divisor de águas para firmar o nome de Walter Salles, depois desse dirigiu Água Negra (2005), uma refilmagem de um suspense japonês lançado em 2002. E foi dessa forma que o diretor foi ganhando visibilidade, até chegar a dirigir o recente “Na Estrada”. O que posso descrever da impressão que o filme me causou, assim digamos uma vertigem, uma viagem meio surreal, e um pouco também de muitas reflexões, ele demonstrou um interessante retratado da visão da juventude americana do final dos anos 1940 e inicio dos anos 1950, um tanto inconformada com os padrões de vida de conservador puritanista dos EUA, num cenário Pós-Segunda Guerra Mundial. E assim, antes de assistir ao filme eu não tive ainda a oportunidade de ler a fonte da qual ela foi inspirada, portanto eu não posso colocar alguns pontos falhos no roteiro, principalmente passagens que tinha no livro e que os roteiristas deixaram de fora, o que seria até uma grande hipocrisia de minha parte. Mas posso colocar o seguinte: “Livro é Livro”, “Cinema é Cinema”. Cada um com suas diferentes linguagens, posso também colocar que também me causou uma sensação assim de êxtase, principalmente as cenas com muitas baladas, muita mangaça, muita droga, muito som de jazz, muitas cenas picantes com direito a um damage a trois, dentro do carro em alta velocidade pela estrada entre Sal, Marylou e Dean no volante. O enredo do filme, pelo que posso descrever, segue bem a ideia de mostrar a visão de mundo da rebelde Geração Beat, os precursores dos movimentos da contracultura. Nesse filme a gente conhece a história de Sal Paradise, um jovem de 23 anos, aspirante a escritor, que depois da morte do pai, resolve mudar o rumo de sua vida. Vai ser nessa circunstancia que ele irá conhecer Dean Moriathy, um sujeito que gosta de curtir a vida sem se preocupar com as consequências positivas ou mesmo negativas. Que o leva para viver uma vida de aventureiro sem rumo no seu carro, o levando para conhecer os mais diferentes lugares, regados a muita música, muita poesia, muita bebida, conhecer gente das mais diferentes realidades, citações filosóficas, situações embaraçosas, muitas tragadas e muitas aventuras sexuais com as mais diferentes mulheres das quais eles conhecem, entre elas estão Marylou e Camile. Eu pessoalmente gostei muito do filme, principalmente no aspecto visual, com belas cenas externas mostrando os mais diferentes cenários panorâmicos das estradas americanas, lhe dando a sensação de conhecer os lugares mais contrastantes da maior potencia econômica mundial, em diferentes estações, do sol escaldante do verão em lugares áridos e desérticos, ao frio nevado do inverno em regiões serranas. Também fiquei admirado com a maneira como a produção reproduziu os cenários de casas, prédios, bares que rementem bem ao cenário americano do final dos anos 1940 e inicio dos anos 1950, os figurinos também ficaram ótimos para retratarem bem como era a moda, e os jeitos de vestir desse período, desde as vestimentas mais elegantes, até mesmo as mais simples. O elenco assim posso definir que está assim muito escalado. Algumas estrelas que fazem pequenas pontas no filme mostram seus brilhos aproveitando cada momento interessante. Sam Riley mostra um bom desempenho no papel de Sal, um rapaz que vive em busca do seu lugar ao sol. Garret Hedlund, como Dean, que já tem um extenso currículo cinematográfico, estrelou seu primeiro filme aos 19 anos fazendo o épico Troia (2004), no papel de Pátroclo, o primo do herói Aquiles. Depois, vieram outros filmes mais no currículo como Quatro Irmãos(2005), Eragon(2006), Sentença de Morte(2007), Tron-O Legado(2010), até chegar ao Dean de Na Estrada, num papel brilhante de um cara tão aventureiro, e também doidão e viciado na esbórnia, que nem ligou para cuidar dos filhos que teve com Camile. Kristen Stewart, a mocinha Bela Swan da saga Crepúsculo, que alguns críticos a consideram um tanto insossa, é a responsável por fazer a Marylou, responsável por diversas cenas picantes com Sal e Dean, que a diferencia bastante da ingenuidade da Bella pelo seu amado vampiro Edward Cullen. Kirsten Dunst, a Mary Jane Watson da trilogia do Homem-Aranha, dirigida por Sam Raimi, faz o papel da Camile, também colocando muito fogo nas poucas em que aparece, e também demonstrando um empenho assim impecável, principalmente na cena tórrida conflituosa dela com Dean, onde ela passava a reclamar dele não dar mais atenção a ela e as crianças. A brasileira Alice Braga mostrando mais uma vez seu talento ao cinema internacional, sua carreira cinematográfica começou aqui fazendo um curta-metragem intitulado Trampolim, lançado em 1998. Quatro anos depois, sua carreira no cinema começaria a se firmar quando estrelou Cidade de Deus(2002), depois desse estrelaria Cidade Baixa(2005), outro nacional. Mas sua carreira começaria a tomar importância depois que estrelou Eu sou a lenda(2007), depois veio Ensaios sobre a Cegueira(2008) até chegar a fazer uma ponta em Na Estrada, no papel da fazendeira Terry, uma colhedora de algodão, que será mais uma entre as diversas mulheres assim como Marylou e Camile, de quem Sal Paradise vive uma aventura amorosa durante toda a sua jornada acompanhado de Dean. No elenco também inclui Viggo Mortessen, o eterno guerreiro Aragorn da trilogia de “O Senhor dos Anéis” lançados entre 2001, 2002 e 2003 também fazendo um boa interpretação na ponta do filme e por fim Terence Howard também numa ótima ponta fazendo um debochado músico de jazz, que faz piada sobre a sua condição social. E assim para terminar, como bem eu havia colocado no início que o filme não era um tipo de blockbuster, de grande apelo comercial apenas para entretenimento, que era muito cabeça e que chegou tardiamente as salas de cinema daqui de Natal/RN. Pois então, a maior prova disso é que nesse mesmo dia em que fui conferir o filme na sala do Praia Shopping, as cadeiras estavam vazias, com um número muito limitado de pessoas, bom o filme era muito longo e confesso que houve momentos onde fiquei agoniado por causa da fome que me bateu, e não via a hora de terminar logo para fazer uma boquinha numa daquelas lanchonetes fast-foods que funcionam no shopping. Mas, no entanto, para quem gosta de apreciar filmes alternativos, com conceitos e visões diferentes, puramente de arte, ele é uma boa escolha. Fica aqui a dica.

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